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Pingue Pongue - Henrique Soares

Andrea Fantoni

22 de jun. de 2023

Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), fala sobre o mercado de vinhos e o desenvolvimento do setor no Brasil.

Entrevista

Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS), em Portugal, fala sobre o mercado de vinhos no mundo e o desenvolvimento do setor no Brasil. 


Perg. Como está o mercado de vinhos no mundo atualmente? Poderia nos dar um pequeno panorama? 

HS - O mercado mundial está cada vez mais aberto, competitivo e intercontinental. Em paralelo com o turismo, arrisco afirmar que na proporção do valor gerado por ambos não há outro mercado com características tão semelhantes às do turismo. O mercado mundial do vinho está num ponto de equilíbrio entre “velho“ e “novo” mundo e dependendo de cada safra esse equilíbrio é mais ou menos favorável a cada um desses dois “blocos”. 

No entanto, vale ressaltar que, em regra geral, a quantidade produzida é superior ao consumo mundial, circunstância que agrava a competitividade quando as duas safras, nos dois hemisférios, são acima da média. 


Perg. Quais são as perspectivas do mercado de vinhos portugueses, em geral, para os próximos anos? 

HS - Portugal integra o TOP 10 da produção e da exportação mundial e tem feito um caminho extraordinário nos últimos doze anos. Mesmo com o impacto da pandemia e da guerra na Europa, devemos alcançar este ano os um bilhão de Euros de exportações, o que é um feito extraordinário para um país da nossa dimensão geográfica e produtiva. 

Nosso caminho terá que seguir nessa busca da melhor valorização para nossos vinhos e dos mercados que melhor nos valorizam, como é o caso do Brasil. Nunca teremos condições de competir por economia de escala e por preço baixo. Com isso, o caminho que encontramos é o fortalecimento em conjunto das empresas VINIPORTUGAL e suas regiões para que consigamos continuar acelerando nossa escalada de valor, ainda que por vezes, tenhamos que abdicar de crescimento em volume.     


Perg. Falando especificamente da Península de Setúbal: como avaliar os vinhos desta bela região, localizada na Costa Sul de Portugal? Quais as características comparadas às de outras regiões de Portugal?

HS - Essa é uma pergunta difícil de responder levando em consideração minha condição de fã nº1 de nossos vinhos. Nossa região é uma das mais antigas e tradicionais de Portugal. Seu reconhecimento, delimitação e regulamentação ocorreu ainda nos primórdios do século passado datados antes da era cristã.

Os vinhos da região de Setúbal são muito bem avaliados, até pelos mais exigentes: o consumidor! Vale ressaltar que nossos registros de vendas no mercado nacional colocam-nos hoje no top das preferências dos consumidores portugueses e também nos posicionam com distinção em alguns dos mercados de exportação mais relevantes dos vinhos de Portugal, como é o caso do Brasil!

Nossas principais características são: os solos pobres de areia, a imensa costa e influência atlântica, além de nossas 3 principais uvas (Castelão, Moscatel de Setúbal e Fernão Pires) e claro, nossos produtores. Somos uma região do sul, com sol em abundância e pouca chuva, onde as uvas amadurecem sempre bem, originando vinhos de qualidade inimitável.  


Perg. Qual a grande aposta no mercado, neste momento, da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS)

HS - Nossa grande aposta está nos produtores. São eles que constituíram esta região e que continuam sendo seu motor, em função da dedicação nas produções. Isso faz com que os vinhos de Setúbal e de Portugal sejam tão relevantes no país e no mundo. De maneira resumida, nossa aposta e grande objetivo é que a região de Setúbal e as outras regiões portuguesas se desenvolvam e ganhem cada vez mais mercado. A palavra é: valorizar, valorizar e VALORIZAR nosso produto!


Perg. Como o senhor classifica o custo benefício dos Vinhos da Península de Setúbal? O que o senhor acha deste velho conceito custo X benefício? Achei confusa. 

HS - Essa é na verdade uma grande questão de nossa vida enquanto consumidores e de uma forma inata estamos sempre aplicando e buscando essa relação quando falamos sobre comportamento de consumo. Mesmo sem ter consciência, no caso dos vinhos esse conceito virou “moda” enquanto argumento de venda, mas na verdade hoje em dia está vazio de significado. 

Podemos encontrar facilmente vinhos de todos os preços, em todos os segmentos, desde os vinhos de consumo diário, que umas poucas dezenas de reais compram, até aos vinhos icônicos de muitas centenas ou mesmo milhares de reais por garrafa. Além disso, no Brasil é fácil encontrá-los em lojas físicas ou virtuais. Portanto, cada consumidor em seu ato de compra, em função do momento, da comida e do saldo de seu cartão,  tem a possibilidade de escolher entre os vinhos disponíveis aquele que considera ser o que melhor cumpre suas necessidades momentâneas.     


Perg. Qual a importância do mercado brasileiro para os Vinhos da Península de Setúbal?

HS - Sempre foi e é cada vez mais importante para a Península de Setúbal. 

Perg. Quais os próximos eventos que serão realizados no Brasil?

HS - Temos uma agenda anual bastante robusta para o mercado no Brasil. Isso porque acreditamos que ainda temos muito espaço para conquistar e para mostrar nosso produto. 

Os brasileiros estão sempre ávidos por novidades e por isso recebem muito bem os vinhos da nossa região. Para o primeiro semestre estamos programando uma semana gastronômica no Rio de Janeiro e em São Paulo para degustação e apresentação de produtores e vinhos da região, por exemplo. Mas ao longo do ano vamos desenvolver ações com influenciadores, sommeliers e clientes para disseminar ainda mais nossa cultura do vinho e apresentar a grande diversidade de produtos e produtores. 


Perg. O que o senhor acha do consumidor de vinhos brasileiro? Foi e é uma grata surpresa, já que o Brasil, durante anos, era conhecido como o país da cerveja? 

HS - O clima em estados brasileiros é muito convidativo ao consumo da cerveja, mas creio que o crescimento contínuo da produção e sobretudo do consumo e importação mostra que os vinhos vêm ganhando espaço e já são uma tendência, mas que ainda têm muito caminho pela frente e um potencial enorme que podemos explorar, visto que os brasileiros querem cada vez mais conhecer sobre o mundo do vinho. 


Perg. Agora, para descontrair.  Que tipo de vinhos devo servir em uma reunião de amigos no Brasil. Fale um pouco sobre algumas ocasiões, como por exemplo, almoços em família, noites quentes, casas de praia..  

HS - Escolha sempre os vinhos da Península de Setúbal (Vinho Regional), vinhos de Palmela ou Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal...”. Uma forma de simplificar a escolha para almoços em família é por exemplo: optar por um vinho que tenha Castelão ou um corte de Castelão (Syrah, Touriga Nacional, Aragonez, Alicante Bouschet). Eles harmonizam perfeitamente com carnes, até mesmo com a típica feijoada. Para as noites quentes, um corte da casta Fernão Pires com Arinto, Verdelho, Antão Vaz são excelentes escolhas, leves e frutados. Além disso, não pode faltar nas casas um Moscatel de Setúbal ou Moscatel Roxo de Setúbal. São icônicos, vão bem com queijos e sobremesas. Ou simplesmente sozinhos, como aperitivo ou digestivo.

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